domingo, 20 de março de 2016

PRÓTON.

Prótons.

Como é ele? — o meu próton -
Igual ao próton de um protozoário?
Igual ao próton da promessa e do
Prometido?
Igual ao próton do protocolo,
da princesa e da prostituta?
Igual ao próton do preso,
da prosa e da poesia?
Igual ao próton da providência
e da previdência?
Igual ao próton da porcelana
e da paciência?
Igual ao próton da prótese,
da próclise e da penitência?
Meus prótons me postergam,
Me procrastinam, me protegem
E me prometem a Paz que não existe.


Átomo.

Átomo.

Meus prótons me procrastinam, me postergam.
Meus elétrons me eletrizam, me elucidam,
Me eletrocutam e me eliminam.
Meus nêutrons me neurotizam,
Me neutralizam e me normatizam.
E assim vago em inimagináveis
Passeios orbitais.
E pra descansar, sento-me
Na arquibancada do núcleo.
Divirto-me, revigoro-me, e aprecio
Esta infindável dança nuclear,
Embevecido com sua indecifrável
E mágica coreografia.


ESTAVA.

Estava.

Eu não estava aqui.
E não estava lá.
Eu não estava onde estava.
Estava instável.
Estava estático.
Eu estava estranho e estragado.
Estava estrelado e estralando.
Estava espremido, entulhado,
Enlatado e entalado.
Eu não estava na luta.
Estava enlutado.
É tanta a insatisfação que
Dou-me por satisfeito.

Eles estavam aqui.
Eles estavam lá.
Eles estavam e ainda estão.
Avacalhando os ritmos e as coisas.
Destruindo o melódico e as melodias.
Eles estavam e ainda estão.
Profanando as raízes e as culturas.
Perecerão os desenraizados.
Sequer sobrará o suficiente
Para os velórios e enterros.
E não haverão velórios e enterros.
E não haverá o suficiente
Para chorar pelos mortos.
Os ditos Irracionais,
Agradecerão a herança deixada
Pelos prepotentes Racionais.
E dirão:
Não foi por falta de aviso.


quarta-feira, 2 de março de 2016

                    Falência.

Após muito matutar, resolvi empreender.
Segredei a mim mesmo:
Vou abrir a Tratoria século 21.
E tive uma ideia.
De megafone em punho convoco,
Os sem fome e os passa fome.
Legal! Assim, veja, ouça:
“Espaguete alho e óleo”.
“Olha o óleo, olha o alho”.
“Faz bem à vista, é bom pros olhos”.
Numa questão de prudência o Juiz
Sem mais, decretou-me falência.
Sentenciou o magistrado: Falência das ideias.
Com esta bato o recorde de falências.
Vivo a falir-me idealmente.
Só me faltava essa, falência múltipla dos órgãos.
Não, essa não, nunca povoaram minhas ideias.
Não tenho a mínima ideia.
Sinto que o cara do lado esquerdo do peito
Bate firme, ritmado sem queimar óleo.
O duto hidráulico não me preocupa.
No lado oposto a betoneira mistura a massa.
Pelo escapamento não sai fumaça.
Apenas gazes e o concreto fedegoso.
É recomendável, disse-me o Juiz.
“Não tenhas idéias”.
Sim senhor, “Meretríssimo”, disse eu.
Fui preso. Porque? sei não...