domingo, 25 de dezembro de 2022

Disse me disse.

 

                                Rua da Ladeira.


Morei vários anos na Ladeira do disse-me-disse, bem em frente da Igreja da Matriz, muito bem

cuidada pelo Cônego Ulisses.No meio da quadra, sentido de quem sobe, havia o açougue do

marido da D.Eunice.O barbeiro, duas casas abaixo, era propriedade do marido da D.

Clarice.Enquanto isso, as senhoras e senhoritas, eram muito bem atendidas pela bela e

simpática, cabeleireira Berenice, sempre auxilida pela colega Maria Alice.O único veículo da

cidade, um “Fordeco” - Ford 1929 – era dirigido pelo “Chaufer”, um jovem rapagão licenciado

e habilitado, sobrinho do Cônego Ulisses.A sorveteria era propriedade do seu Hermenegildo,

que do nosso amado Prefeito era o Vice.No disse-me-disse, o guarda noturno concursado,

trabalhava de dia porque tinha muito medo do escuro. O Prefeito apoiava o seu guarda e,

humano, solidário, ficava de guarda até meia noite; rendia-o o vice Prefeito que, era rendido

pelo Presidente da Câmara que era rendido pelos vereadores e estes eram rendidos pelo Juiz

de Paz que era rendido pelo Cônego Ulisses

O plantão do Cônego findavana na  manhãzinha, no exato momento, o suficiente para paramentar-se e  rezar sua primeira missa..

 Senhoras da comunidade e alguns senhores, antes de se dirigirem áo templo, providenciavam um revigorante café da manhã para o amado Cônego Ulisses.

Enquanto isso, o guarda noturno em sinal de gratidão, dirigia o caminhão do lixo, varria as ruas

e, eventualmente pilotava com maestria, a velha ambulância, além disso, quando

estritamente necessário, se enlutava e dirigia o carro fúnebre. Cumpre dizer que assumia a

manutenção dos poucos veículos; era mecânico auto-didata. À população estava garantida

segurança, saúde, escola e um tal de disse-me-disse que muito nos alegrava.

Por tudo isso é que vivo cantando:

“Ai que saudades me dá, que saudades do café Nice, do disse-me-disse”.

Inspirado na melodia interpretada por Nelson Gonçalves.


                                                                     Agosto 2022 Mia Pouco.

Vira Latas

 

                                         Vira Latas

De quem é ela.?

Disseram, que aquela cadela que vive rasgando sacos de lixos e revirando panelas, é a cadeia

da sogra dela. Entristecida verificou ela, que tudo não passava da mais imprópria e pura

balela, e de forma singela, colocou um ponto final sem causar danos ou causar sequelas,

afirmando que a sogra dela, não era dona daquela cadela. Não era dona de nenhuma outra, de

nenhuma delas: pretas, malhadas ou amarelas.


                                                                                            - /12/2022 Mia Pouco.                    

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Desaparecida

 


A Desaparecida


Num tá mais.

Ela já foi.

Ela já saiu.

Ela já sumiu.

Ela já subiu.

Ela já fugiu.

Ela não subtraiu.

Ela não sucumbiu.

Ela não desistiu.

Ela correu, foi encontrar-se com seu par, seu amado , adorado, idolatrado ; Bugio.

Agora ela gemeu, chorou, pariu, ninguém soube, sabe, ninguém ouviu, ninguém viu.

Puta que os Pariu.

Se essa chuva não parar, eu disparo.


                                                                Mia Pouco 23/12/2022

Não Vinha

 


                        Não ia e não vinha - Ficava -.


Eu não era eu e nem era o outro, não era suficiente estúpido nem tresloucado douto. Eu não

vinha e nem ia.

Eu ficava.

Ficava sabendo que não iria quando já tinha ido. Desesperado afagava o cachorro que de leve,

sem aviso, me havia mordido, sem antes enviar-me um alarmante latido. Teria eu, uma

chance, teria eu, fugido, corrido logo após o primeiro latido, desde que meu surdo ouvido, não

me houvesse traído, ocultando de mim o som do latido. É por isso, e, em vista disso, que

vulgarmente dizem por aí à fora..


Temos fudido.


- Eu não me atrevo, nunca digo:

 temos fudido.

                                          09/12/2023 Mia Pouco, miando antes que cheguem os Croatas