Rua da Ladeira.
Morei vários anos na Ladeira do disse-me-disse, bem em frente da Igreja da Matriz, muito bem
cuidada pelo Cônego Ulisses.No meio da quadra, sentido de quem sobe, havia o açougue do
marido da D.Eunice.O barbeiro, duas casas abaixo, era propriedade do marido da D.
Clarice.Enquanto isso, as senhoras e senhoritas, eram muito bem atendidas pela bela e
simpática, cabeleireira Berenice, sempre auxilida pela colega Maria Alice.O único veículo da
cidade, um “Fordeco” - Ford 1929 – era dirigido pelo “Chaufer”, um jovem rapagão licenciado
e habilitado, sobrinho do Cônego Ulisses.A sorveteria era propriedade do seu Hermenegildo,
que do nosso amado Prefeito era o Vice.No disse-me-disse, o guarda noturno concursado,
trabalhava de dia porque tinha muito medo do escuro. O Prefeito apoiava o seu guarda e,
humano, solidário, ficava de guarda até meia noite; rendia-o o vice Prefeito que, era rendido
pelo Presidente da Câmara que era rendido pelos vereadores e estes eram rendidos pelo Juiz
de Paz que era rendido pelo Cônego Ulisses
O plantão do Cônego findavana na manhãzinha, no exato momento, o suficiente para paramentar-se e rezar sua primeira missa..
Senhoras da comunidade e alguns senhores, antes de se dirigirem áo templo, providenciavam um revigorante café da manhã para o amado Cônego Ulisses.
Enquanto isso, o guarda noturno em sinal de gratidão, dirigia o caminhão do lixo, varria as ruas
e, eventualmente pilotava com maestria, a velha ambulância, além disso, quando
estritamente necessário, se enlutava e dirigia o carro fúnebre. Cumpre dizer que assumia a
manutenção dos poucos veículos; era mecânico auto-didata. À população estava garantida
segurança, saúde, escola e um tal de disse-me-disse que muito nos alegrava.
Por tudo isso é que vivo cantando:
“Ai que saudades me dá, que saudades do café Nice, do disse-me-disse”.
Inspirado na melodia interpretada por Nelson Gonçalves.
Agosto 2022 Mia Pouco.