quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Os Rios que somos

Nem sempre concordo.
As vezes contrario.
Nunca fico contra o Rio.
O amigo do Rio, Ri.
O inimigo,
Verte Rios de lágrimas.
Ou verterá; um dia.

Lamenta o Rio: ”Na vida só desci, só desço”.
Console-se comigo, amigo:
“Eu nunca na vida subi”.
Continuou o Rio:
“Agora piorou me enchem de bosta”.
E me perguntou : “Você já viveu
ou ainda vive na bosta ?”
Calei-me veramente embosteado.

sábado, 13 de outubro de 2012

VIM PRA VER A LUZ.


VIM PRA VER A LUZ

Do leste. Lenta, lívida, levanta.
Luminosa, linda, leve lua.
Luz, lume luar.
Logo longe.
Longilíneo lamurioso lobo; lamenta.
Lamurioso lamento; lúgubre.
Lascivo lamento.
Logo lobas largam lapa.
Lobas laçadas.
Lá longes luas, legados.
Lobinhas lobinhos.

Do leste. Lenta lívida levanta.
Lobinhas lobinhos, Lobas lobos.
Lamentos.
Largam Lapa.
Lá longes luas.
Legados, ......... L.....as , L.....os.

Gira, gira Mãe Terra.
De turno em turno,
Gira meu pensar,
Me translada.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

NÔNO ÍTALO


A Ponte.
O nôno Italo fazia uma ponte no bairro da Barra, sobre o Ribeirão dos Limas, nosso simpático riozinho. Era uma ponte pro rio passar debaixo com seus peixes molhados. Eis que uma pesada linha (tronco de eucalipto de cerca de 15 metros), rolou e esmagou a perna do nôno. No hospital “Ana Cintra“ em Amparo, sua perna foi amputada.
Fiquei deveras confuso. Era muito criança ainda, não frequentava a escola. Não entendia nada de putas. Muito menos ainda entendia o fato de o nôno ter uma perna puta, agora amputada. Poderia ser uma puta perna, não sei. Não me lembro quando o nôno saiu do hospital sem a puta da perna ou a perna puta. Sei que usava perna mecânica. Convalescido, andava a cavalo, lambicava pinga e esperimentava o produto ávidamente .
Me indagava como o nôno convivia com a nona Luiza tendo também uma puta. Aos poucos fui me tranquilizando ao constatar que meus tios e tias, uma dúzia ao todo, eram todos nascidos da nona Luiza. Nenhum deles era filho da puta, a perna. Ainda bem. Se assim não fosse, temia e muito, que nas desavenças com outros moleques, além do tradicional filho da puta, pudessem eles nos xingar de netos da puta. Eu, meus irmãos e primos, agora continuaremos ser chamados vez em quando apenas de filhos da puta, o que é menos mal. Me tranquilizei devezmente.



O Nôno.
Era Italiano, veio ainda de colo, foi batizado como Antonio. Aqui mudaram seu nome para Italo. Suponho que fosse para reforçar as raizes de sua origem. Orgulhava-se do Brasil e lutava em prol das nossas coisas como poucos. Sempre nos ensinou a amar o local onde nascemos. Era solidário. Quando perdeu a perna trabalhava como voluntário. Ele e os demais supriam a falta, suprimiam a ausência do poder público. Liderava grupos para reparar as estradas, pontes, etc. Gostava de cantar canções em italiano, fazendo dupla com seu amigo descendente de africanos. “Bel Canarin“ era a canção predileta da dupla. Nós achávamos tanta graça ao vê-los, que até apelidamos o parceiro do nôno de “Bel Canarin”. Motivo pelo qual não me lembro qual era seu nome.
Nôno criou dois pretinhos desvalidos como seus próprios filhos. Um dia Antonio Barba pediu ao nôno cuidasse de seus dois filhos, o Dito e o Pedro. E o nôno cuidou deles como se seus fossem, e eram, foram. O Dito após casado visitáva-os quase todos os domingos pela manhã. Tomava benção e chamava nona Luiza de nona, assim como todos nós seus netos.
Nona Luiza teve entre filhos e filhas nada menos que treze. Com o Dito, e o Pedro Barba, eram quinze. Quando o irmão do nôno, Orozimbo, ficou viuvo, a nona ajudou a cuidar dos seis sobrinhos orfãos. Que nona era essa? Fumava uns cigarrinhos escondida. Morreu precocemente aos cento e cinco anos. Aos cem anos foi escolhida a mãe Amparense. Nas comemorações só deixava a festa após o último convidado. Dizia ela: “a festa é minha, não posso ausentar-me enquanto tiver alguém que aqui veio para me festejar, não posso”. Um dia vou escrever sobre as filhas dela, entre elas minha mãe Mercedes. Fico assoberbado só em imaginar a estória dessa mãe máquina que foi minha mãe.
Mas esta é outra estória, como ainda não foi escrita é recente, embora muito tempo tenha passado.
O Tio Orozimbo – O Irmão do Nono Ítalo.
Não o conheci. Minha mãe sempre me falou dele com extremo carinho. Como visto acima, ficou viúvo com seis filhos pequenos. Era proprietário do sitio e da pequena venda local. Morou na mesma casa onde um dia morou meu tio Justo irmão de minha mãe. E nesta casa, sucedendo tio Justo, moramos eu, meus irmãos e meus pais João e mãe Mercedes. Era um rodízio familiar. Tio Adérico nos sucedeu. Hoje um filho dele, meu primo genial reside lá. O Edu nasceu nessa casa num domingo de páscoa às dez horas da manhã. Nona Luiza estava acompanhando o parto. Sorrindo, ela nos disse: “nasceu o Pascoalin”.
Tio Orozimbo, embora fosse calmo e paciente, às vezes destrambelhava. Quando o velho surdinho Urbano Camargo difilcutava o assunto, tio Orozimbo dizia até com certo humor: “Dio que ti mande un Fulmi”; respondia seu Urbano: “em dobro pro sinhô, seu Orozimbo”. Seu Urbano não sabia que Fulmi significa raio.
Esse surdo, acompanhado de seu filho Amadeu, matou o próprio cunhado Benjamim, conhecido como Benzinho. Mataram-no como a um porco, a facadas. Ficaram presos por seis anos na penitenciaria estadual. A família do falecido colocou no local do assassinato uma cruz e pequena imagem de N. S. Aparecida. Quando Urbano saiu do presidio, caminhando pela estradinha de terra, parou frente à cruz e disse: - “Bem que ele cramô pro cê pretinha, mais não adiantô nada".

FIM.


01 de Janeiro de 1951.

Era conhecido como João Toscano, todos lhe chamavam de “ Djuane”( Italianado).Tinha cerca de trinta anos, era deficiente mental , órfão de pai e mãe. Tinha um irmão mais velho que não lhe dispensava nenhum cuidado.
João ou “Djuane”perambulava pelos bairros, morando ora aqui ora acolá, carregando um saco às costas com sua tralha.Fazia pequenas tarefas, recebendo pousada, roupas e alimentação.
Gostava dormir nos paióis repletos de espigas de milho. Era comilão. Quando era sevido, se notace que a comida era pouca dizia: “Pinhata picolla poca papa gué”Após esse comentário soltava uma comprida risada que mais parecia um bode a berrar.A molecada quando presente caia na gargalhada.
João ciente do sucesso ria novamente, a molecada também.Era o festival da risada. Risada a parte, João ataca a “pinhata” e devora vorazmente.Após breve descanso Djuane retoma suas pequenas tarefas. Sempre bem humorado, vagarosamente da cabo ao seu dia. Gosta prosear com as pessoas. São assuntos desconexos e as vezes surpreendentemente engraçados.
Sem maiores avisos, quando lhe dava na teia arrumava a tralha e partia.E dessa forma fazia o rodizio que muito gostava.Ele orbitava num raio de vinte quilometros, por vários bairros rurais tais como: B. Da Barra, B. Da Moenda, Ribeirão dos Limas, B. dos Limas, Mostardas, Vargem Grande, Boa Vereda, Corgo Fundo, Forquia e Treis Ponte. Acho que só. Assim vivia nosso nômade João Toscano.
Todo primeiro do ano a molecada ia de casa em casa pedir bom ano. Chegavam e diziam : “Bom dia Bom princípio”. Ganhavam moedas ou um doce, um pedaço de bolo, etc.
João também participava. Apesar de adulto, todos, inclusive ele, sabiam que mentalmente João era uma criança. Uma criança crescida, abandonada e vivendo da caridade daquele povo bom.Ninguém era rico por ali e muito menos miseravel ou calhorda.
Neste primeiro do ano João apareceu logo pela manhã na caso do nono Ítalo no Bairro da Moenda.
Estavamos reunidos para o almoço. Entre tios , tias, primos e primas eramos cerca de cicoenta parentes, presumo.
A criançada quando viu João na porteira gritou: “ Olha o Djuane”. Ele foi entrando e desejando Bom ano e Bom Princípio a todos e recolhendo as moedinhas sorridente e feliz.
Sabendo que nono Ítalo havia perdido uma das pernas, João assim lhe disse: “Itro, pro cê não peço bom ano porque ocê ficô alejado, é eu que tem que da bom ano pro cê”. Tomou de uma moeda e depositou-a nas mãos trêmulas do nono Ítalo. O nono sorriu, agradeceu e disse:” Poverino, poveracho, Dio bono cuida de questo bambino”. Djuane disparou a primeira risada do ano.Todos riram, não apenas a molecada.Todos. Depois se fez silêcio.Era preciso.
João envelheceu e adoentado deixou de perambular. Fixou residência no sitio do meu primo Noi, o Norberto.Noi cuidou do João como se fosse um de seus velhos, até sua morte.
Assim viveu João Toscano, “ O Djuane”. Se Deus existe que cubra sua alma de glórias para compensar o calvário que foi seu viver.
FIM


Babel de Bebel .

(Torrenostra)

Eletrons que vem da Light.
Alimentam a lógica.
O bit a bit alimenta o byte.
Ao microfone, Sinatra canta:
Tonight.
Vida confusa.
Vómito de Al Pacino,
Cowboy de Midnight.
Jc.......em algum dia de 2009

quinta-feira, 4 de outubro de 2012


Ouça o cantar do Galo.

Esse meu encantado galo cantadô.
Ao romper da madrugada
Principia a cantá.
Acorda o galo vizinho
Que não se faz de rogado
E tamém principia trová.
Canta galo aqui, alí e acolá.
A cantoria já se estende
Por todo o arraiá.
Fico matutano......
Onde e como essa cantoria
Principiô? e onde vai acabá?
E já que acordado tô.
Pra vê, caminhá eu vô.
Onde nessa terra,
Mora o úrtimo galo cantadô.
E prele dizê eu vô.
Vance úrtimo cantadô
Canta a cantoria que
Meu galo principiô.
Aborrecido o galo repricô.
Num extenso e triste canto
Ele quase tudo me expricô.
No endereço vance acertô,
Mas no que disse tudo errô.
Os galo canta há milênios.
Só Deus sabe como e quando
Essa cantoria principiô.
Sabe seu moço, os galo canta
Pra acordá a consciência dos home
Que faiz do seu irmão um sofredô.
Assim Deus a nóis ensinô.
Lembre da madrugada, quando
Pedro antes da cantoria
Seu mestre negô.
Na tarde seguinte treis home
A mardade crucificô.
E um deles era Jesuis...
O Nosso Sinhô

jc..........................10/03/2012