quarta-feira, 10 de outubro de 2012



01 de Janeiro de 1951.

Era conhecido como João Toscano, todos lhe chamavam de “ Djuane”( Italianado).Tinha cerca de trinta anos, era deficiente mental , órfão de pai e mãe. Tinha um irmão mais velho que não lhe dispensava nenhum cuidado.
João ou “Djuane”perambulava pelos bairros, morando ora aqui ora acolá, carregando um saco às costas com sua tralha.Fazia pequenas tarefas, recebendo pousada, roupas e alimentação.
Gostava dormir nos paióis repletos de espigas de milho. Era comilão. Quando era sevido, se notace que a comida era pouca dizia: “Pinhata picolla poca papa gué”Após esse comentário soltava uma comprida risada que mais parecia um bode a berrar.A molecada quando presente caia na gargalhada.
João ciente do sucesso ria novamente, a molecada também.Era o festival da risada. Risada a parte, João ataca a “pinhata” e devora vorazmente.Após breve descanso Djuane retoma suas pequenas tarefas. Sempre bem humorado, vagarosamente da cabo ao seu dia. Gosta prosear com as pessoas. São assuntos desconexos e as vezes surpreendentemente engraçados.
Sem maiores avisos, quando lhe dava na teia arrumava a tralha e partia.E dessa forma fazia o rodizio que muito gostava.Ele orbitava num raio de vinte quilometros, por vários bairros rurais tais como: B. Da Barra, B. Da Moenda, Ribeirão dos Limas, B. dos Limas, Mostardas, Vargem Grande, Boa Vereda, Corgo Fundo, Forquia e Treis Ponte. Acho que só. Assim vivia nosso nômade João Toscano.
Todo primeiro do ano a molecada ia de casa em casa pedir bom ano. Chegavam e diziam : “Bom dia Bom princípio”. Ganhavam moedas ou um doce, um pedaço de bolo, etc.
João também participava. Apesar de adulto, todos, inclusive ele, sabiam que mentalmente João era uma criança. Uma criança crescida, abandonada e vivendo da caridade daquele povo bom.Ninguém era rico por ali e muito menos miseravel ou calhorda.
Neste primeiro do ano João apareceu logo pela manhã na caso do nono Ítalo no Bairro da Moenda.
Estavamos reunidos para o almoço. Entre tios , tias, primos e primas eramos cerca de cicoenta parentes, presumo.
A criançada quando viu João na porteira gritou: “ Olha o Djuane”. Ele foi entrando e desejando Bom ano e Bom Princípio a todos e recolhendo as moedinhas sorridente e feliz.
Sabendo que nono Ítalo havia perdido uma das pernas, João assim lhe disse: “Itro, pro cê não peço bom ano porque ocê ficô alejado, é eu que tem que da bom ano pro cê”. Tomou de uma moeda e depositou-a nas mãos trêmulas do nono Ítalo. O nono sorriu, agradeceu e disse:” Poverino, poveracho, Dio bono cuida de questo bambino”. Djuane disparou a primeira risada do ano.Todos riram, não apenas a molecada.Todos. Depois se fez silêcio.Era preciso.
João envelheceu e adoentado deixou de perambular. Fixou residência no sitio do meu primo Noi, o Norberto.Noi cuidou do João como se fosse um de seus velhos, até sua morte.
Assim viveu João Toscano, “ O Djuane”. Se Deus existe que cubra sua alma de glórias para compensar o calvário que foi seu viver.
FIM

2 comentários:

  1. Me lembro do Nono, do Djuane, da Moenda. Só não me lembro o que foi servido no almoço. ( será que a memória esta falhando ou porque só tinha 8 meses.)


    Edu

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  2. Para 8 meses até que você está lembrando de muita coisa rsrsrs

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