Tempos da brilhantina –
bons tempos eram aqueles -.
Já ouvi outros dizerem, que bons, eram os tempos da gonorreia.
Ninguém utilizava capas protetoras, por mais intensas fossem as
chuvas, ninguém contraia ou morria de aids. O mercado urológico era
intenso, promissor. Suponho que devido às inúmeras massagens
prostáticas, alguns pacientes desenvolveram certo apreço pelo
carinho anal e, alguns, após a décima vez, assumiram de vez o gosto
pela passividade: daí em diante passaram a ser chamados de veados,
bichas, ainda demorariam alguns anos para criarmos a denominação
gay, atual. O dedo indicador do Urologista teve papel relevante neste
período. Há relatos, onde se registrou que certos profissionais,
careciam esmerar-se nos cuidados para com seus dedos indicadores,
alguns destes, à semelhança de certos vírus, não conseguiam viver
na presença do oxigênio, visto que passavam horas a fio
introduzidos nos anus dos pacientes; a solução encontrada, e que
resultou positivamente, era, nas horas de lazer, untá-los com bosta.
Outros bons tempos, recordo-os, com leveza e saudades. Lembro-me que
o Publicitário Olivetto, ganhou prêmios com uma publicidade, onde
uma singela adolescente experimentava seu primeiro sutiã, contendo a
seguinte frase: “O primeiro sutiã nunca se esquece”.
Entre os rapazes também se dizia: “ A primeira foda nunca se
esquece”. Os motivos eram os mais diversos, alguns pelo indesejável
como exponho a seguir.
Eram dois amigos, um Experiente e o outro Inocente.
Numa tarde noite de Sábado, Experiente conduziu Inocente até a zona
da cidade, a fim de iniciá-lo.
Escolheu a casa onde o preço cabia em seus bolsos; comercial 37
cruzeiros mais uma cerva “Faixa Azul”, sem a cerva 35 cruzeiros.
Para outras opções e variações, tratar direto com a garçonete.
- Assim estava escrito na placa logo na entrada -.
Missão cumprida, ambos deixam o recinto. O Experiente, exibindo
muita naturalidade, enquanto o inocente parecia semi- abobalhado; num
dado momento cantou, “Salve o Corinthians campeão dos campeões”.
Até lembrou-se daquele Domingo no Pacaembu, quando o Curingão
ganhou do Palmeiras, sagrando-se campeão do quarto Centenário de
S.Paulo de forma invicta, até lembrou-se do timaço:
Cabeção, Homero e Olavo - Idário, Goiano e Roberto – Cláudio,
Luizinho, Baltasar, Carbone e Simão.
O Experiente ficou atônito, culpou-se, e disse de si para consigo –
Que merda acabo de fazer, o cara pirou, meu! Manteve-se calmo, mais
calmo ficou após deixa-lo na soleira da porta da casa.
Na tarde de Domingo, como de costume, encontraram-se na pracinha
frente à Matriz, onde as moças giravam no sentido horário e os
rapazes anti-horário. Inocente chamou Experiente do lado e segredou:
tô com muita coceira no saco, mano, normal isso? quando da primeira
vez? Sem “pobrema” mano, passa Neocide que mata tudinho, disse
Experiente.
Inocente inconformado, retrucou - desde quando Neocide cura coceira?
Nunca vi isso? -.
Experiente aduziu: ocê num oiô dereito, é tudo miudinho carece oiá
dereito.
O sino da Matriz bateu as 10 badaladas, aos poucos a pracinha ficou
deserta, um guarda-noturno apareceu de bicicleta, deu três apitos
longos e agudos; dois bêbados que dormiam no banco da praça
ameaçaram levantar-se, não o fizeram, apenas mandaram o guarda
enfiar o apito no cu, o guarda se fez de surdo e pedalou manso.
Inocente ao chegar em casa acordou a mãe e perguntou se tinha
Neocide. Tem fio, disse ela sonolenta, pra que oce qué Neocid? Vô
mata umas barata mãe. Aproveita e raspa os pelos, aconselhou o pai,
após escutar a prosa.
Inocente sentou na bacia da privada e examinou a floresta; ficou
perplexo diante daquela incomensurável fauna, tacou Neocide, raspou
tudo, tacou álcool, ardeu feito a peste.
No meio da semana ambos se encontram. Experiente, agora mais
tranquilo quis saber sobre as incoerências do amigo; foi logo
perguntando:
Giordano, Sábado, depois que saímos da casa das quengas, você
cantou o hino do meu Corinthians, falou a escalação do time,
diga-me uma coisa? Você não torce mais pro Palestra?
Sou Palestra até debaixo d’água mano, acontece que aquela
lazarenta me disse que era Corintiana, entende?
É isso aí mano, “essa você jamais esquecerá, a primeira foda
jamais se esquece”, disse Experiente, sugerindo uma bebedeira.
Vamos tomar todas esta noite, tudo por minha conta, Giordano, topas?
Aceito, Joca Marvado.
31/05/2019