domingo, 8 de dezembro de 2019

Longa, ao avesso daqueles que desejam tudo mastigado - Recuerdos -


Tempos da brilhantina – bons tempos eram aqueles -.

Já ouvi outros dizerem, que bons, eram os tempos da gonorreia. Ninguém utilizava capas protetoras, por mais intensas fossem as chuvas, ninguém contraia ou morria de aids. O mercado urológico era intenso, promissor. Suponho que devido às inúmeras massagens prostáticas, alguns pacientes desenvolveram certo apreço pelo carinho anal e, alguns, após a décima vez, assumiram de vez o gosto pela passividade: daí em diante passaram a ser chamados de veados, bichas, ainda demorariam alguns anos para criarmos a denominação gay, atual. O dedo indicador do Urologista teve papel relevante neste período. Há relatos, onde se registrou que certos profissionais, careciam esmerar-se nos cuidados para com seus dedos indicadores, alguns destes, à semelhança de certos vírus, não conseguiam viver na presença do oxigênio, visto que passavam horas a fio introduzidos nos anus dos pacientes; a solução encontrada, e que resultou positivamente, era, nas horas de lazer, untá-los com bosta.

Outros bons tempos, recordo-os, com leveza e saudades. Lembro-me que o Publicitário Olivetto, ganhou prêmios com uma publicidade, onde uma singela adolescente experimentava seu primeiro sutiã, contendo a seguinte frase: “O primeiro sutiã nunca se esquece”.
Entre os rapazes também se dizia: “ A primeira foda nunca se esquece”. Os motivos eram os mais diversos, alguns pelo indesejável como exponho a seguir.
Eram dois amigos, um Experiente e o outro Inocente.
Numa tarde noite de Sábado, Experiente conduziu Inocente até a zona da cidade, a fim de iniciá-lo.
Escolheu a casa onde o preço cabia em seus bolsos; comercial 37 cruzeiros mais uma cerva “Faixa Azul”, sem a cerva 35 cruzeiros. Para outras opções e variações, tratar direto com a garçonete. - Assim estava escrito na placa logo na entrada -.
Missão cumprida, ambos deixam o recinto. O Experiente, exibindo muita naturalidade, enquanto o inocente parecia semi- abobalhado; num dado momento cantou, “Salve o Corinthians campeão dos campeões”. Até lembrou-se daquele Domingo no Pacaembu, quando o Curingão ganhou do Palmeiras, sagrando-se campeão do quarto Centenário de S.Paulo de forma invicta, até lembrou-se do timaço:
Cabeção, Homero e Olavo - Idário, Goiano e Roberto – Cláudio, Luizinho, Baltasar, Carbone e Simão.
O Experiente ficou atônito, culpou-se, e disse de si para consigo – Que merda acabo de fazer, o cara pirou, meu! Manteve-se calmo, mais calmo ficou após deixa-lo na soleira da porta da casa.
Na tarde de Domingo, como de costume, encontraram-se na pracinha frente à Matriz, onde as moças giravam no sentido horário e os rapazes anti-horário. Inocente chamou Experiente do lado e segredou: tô com muita coceira no saco, mano, normal isso? quando da primeira vez? Sem “pobrema” mano, passa Neocide que mata tudinho, disse Experiente.
Inocente inconformado, retrucou - desde quando Neocide cura coceira? Nunca vi isso? -.
Experiente aduziu: ocê num oiô dereito, é tudo miudinho carece oiá dereito.
O sino da Matriz bateu as 10 badaladas, aos poucos a pracinha ficou deserta, um guarda-noturno apareceu de bicicleta, deu três apitos longos e agudos; dois bêbados que dormiam no banco da praça ameaçaram levantar-se, não o fizeram, apenas mandaram o guarda enfiar o apito no cu, o guarda se fez de surdo e pedalou manso.
Inocente ao chegar em casa acordou a mãe e perguntou se tinha Neocide. Tem fio, disse ela sonolenta, pra que oce qué Neocid? Vô mata umas barata mãe. Aproveita e raspa os pelos, aconselhou o pai, após escutar a prosa.
Inocente sentou na bacia da privada e examinou a floresta; ficou perplexo diante daquela incomensurável fauna, tacou Neocide, raspou tudo, tacou álcool, ardeu feito a peste.
No meio da semana ambos se encontram. Experiente, agora mais tranquilo quis saber sobre as incoerências do amigo; foi logo perguntando:
Giordano, Sábado, depois que saímos da casa das quengas, você cantou o hino do meu Corinthians, falou a escalação do time, diga-me uma coisa? Você não torce mais pro Palestra?
Sou Palestra até debaixo d’água mano, acontece que aquela lazarenta me disse que era Corintiana, entende?
É isso aí mano, “essa você jamais esquecerá, a primeira foda jamais se esquece”, disse Experiente, sugerindo uma bebedeira.
Vamos tomar todas esta noite, tudo por minha conta, Giordano, topas?
Aceito, Joca Marvado.
31/05/2019









2 comentários:

  1. Antes da penicilina os experientes diziam: Uma noite com Vênus e o resto da vida com Mercúrio.

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  2. Relembrar, viajar ao passado, sempre bom! Naqueles idos, nos tempos da gonorreia, as DSTs eram menos agressivas; rendem boas crônicas como esta, até hoje. Com a chegada da aids tudo se complicou, sem chance de recordações nostálgicas.
    Jonas.

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