segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Passando o Tempo que não passa

                       A Passadeira, que passava o tempo.

Era de ferro, pesadão, tinha em seu bojo as brasas calorentas.
Alguém se cansava, transpirava, passava e pensava, se pregas via, repassava.
Passava e pensava, relembrava o passado imaginando o que ainda restaria passar. Já não mais sabia o que se passava, se era o tempo ou a roupa amassada.
Passava e pensava, lembrando-se de quando o passado passou por aqui, deixando suas pegadas, estrumes e rastros.
Pensava ser danoso pisar num sapo, e pior seria no estrume, sujar seus sapatos, dano este, que deixar-lhe-ia mal no retrato.
Se pensaste que sou saudosista, enganou-se meu bem! Não sou indiferente ao presente. Mesmo que tristonho, me faço presente, embora ninguém tenha presentemente, me ofertado algum presente. Gorjeta tem cheiro indecente.
Gosto falar do futuro, porque do futuro, tanto eu como você, pouco ou nada sabemos; pelo que sei, é pouco promissor. Nossos pais temiam pelo no nosso futuro e agora é nossa vez de nós tornarmos temerosos. Será que os perigos são maiores? Ou será apenas fruto da insegurança de sermos humanos?
Sei lá, se permite, agora vou bordar, estou aprendendo. Posso até mencionar-lhes alguns dos meus trabalhos. Confesso que não ficaram bons, mas fiz o melhor que pude, senão vejam:
Em vão tentei bordar uma Rosa, até então, só consegui bordar o perfume.
Do Sabiá Laranjeira só bordei o Canto.
Das Abelhas os zumbidos e a doçura do Mel.
Se lá, mais à frente, se ainda houverem: Rosas, Sabiás e Abelhas, completarei meu bordado.
Pretendo fazê-los em Ponto Cruz, é mais fácil pra fixar Aromas, Paladares e Sons; .... a dor, só se a agulha escapulir.......



Nenhum comentário:

Postar um comentário